Advogado, fazendeiro,
escritor e empresário


A TARDE calorenta.

O sol de dezembro descambava lá pros lados da Serra Geral, onde as lindas cachoeiras despencavam nas ribanceiras, formando um belíssimo espetáculo fluvial.

CHEGARAM com a mudança no caminhãozinho do Horizontino, depois de uma jornada de mais de três horas, de Guarda Mor até as margens do Pulador. Se puseram a descarregar os catres, os vasilhames, roupas de cama, enfim todos os poucos pertences do casal e os seus cinco filhos.

ENQUANTO descarregavam as coisas, a filha mais velha, então com seus nove anos, cuidava dos outros irmãozinhos. Era uma escadinha de nove, sete, cinco, três e um aninho de idade. Alguns, apesar da curiosidade da nova moradia, foram vencidos pelo cansaço e ferraram no sono deitados em camas improvisadas. O mais novinho,muito chorão, era embalado pelos braços da franzina irmã.

AQUELE, o de três anos de idade, era tido como muito levado e desinquieto, acordou primeiro. Desconhecendo o local onde se encontrava, saiu andando sem rumo e sem saber onde estava indo…

OS ADULTOS, entretidos, continuavam na labuta de descer a mudança e colocar as coisas no lugar, dentro da pequena moradia. Foi quando a irmã mais velha deu pela falta do irmãozinho e deu o alarme.

INICIOU-SE o corre corre e a gritaria de todos em busca do Fujão. Só a irmã mais velha,depois de seriamente admoestada, ficou zelando dos outros três irmãos.

LOCAL inóspito, desconhecido, sem vizinhos nas imediações, habitat de animais selvagens e cobras, aumentava a preocupação de todos.

A MÃE, como não poderia ser diferente, estava em desespero. Aos gritos, percorria em várias direções, chegando a ouvir o ressoar dos seus gritos lá na distante Serra Geral.

A AFLIÇÃO multiplicava com o passar do tempo. O sol já queria esconder na Geral.

O MOLEQUINHO, alheio a tudo, continuava a sua imprecisa jornada, em busca do nada e de lugar nenhum, sem saber do horror que impunha a todos e, principalmente, a sua pobre mãe.

MANOEL TOMAZ, desconhecendo os acontecimentos, seguia na marcha pachorrenta da sua égua alazã, que levava além dele, as suas ferramentas de Carapina. Saiu da cabeceira da Vereda do Afonso em direção a.Fazenda Boa Vista, de propriedade do Seu Osório Marra, onde trabalharia no dia seguinte.

NUM certo momento ele levantou o semblante, pois lhe pareceu ter ouvido o choro de uma criança. Estacou o animal e pode certificar ser verdade, já avistando uma criança perdida dentro do cerradão.
DESAPIOU da Alazã e se aproximou dela, oferecendo-lhe as mãos , que foram aceitas.

SEM saber como fazia julgou melhor levar aquela criança para a casa de Seu Osório e Dona Rosa, que melhor saberiam o que fazer.

JÁ CHEGOU na fazenda na boca da noite. O casal não tiveram filhos, mas adotaram a Glorinha, que naquele momento esperneava birrenta, num choro sem lágrimas. Por coincidência, Dona Rosa ralhava com a menina e dizia que se ela continuasse assim iria arranjar um menino pra ficar no lugar dela.

FOI neste momento que o Manoel Tomaz entrou casa a dentro levando aquela desconhecida criança nos braços.

A PAR do ocorrido o casal passou a cuidar da criança, dando-lhe banho, vestindo-lhe roupas da Glorinha e alimentando-a. Assim ela logo adormeceu.

DONA ROSA, de família tradicionalmente religiosa e crente em Deus, pôs-se, imediatamente em oração, rogando pela mae dessa criança, pressentindo o seu sofrimento.

ENQUANTO isso a busca incansável pela criança continuava. Quando alguém deu a ideia de visitar as fazendas da redondeza, não só para dar ciência do sumiço do menino, como para pedir ajuda em sua busca.

A MÃE já tinha se sucumbido ao cansaço e pelos efeitos de um medicamento que o marido, entendido no ramo, havia lhe ministrado, se encontrava em estado de choque, mirando o vazio e gemendo continuamente.

NESSE estado que o Fujaozinho foi colocado no seu colo, trazido pelo mensageiro que foi a fazenda Boa Vista. Ela demorou cair a ficha para encher o rosto da criança de beijos e afagos, momento em que a escuridão da noite era promessa de um imenso sofrimento.

ESESE CASAL que passou por esse sofrimento e o Sr. Oscar Gonçalves de Melo e D. Maria Borges de Melo. Meus saudosos e inesquecíveis PAIS.

A FILHA mais velha, de nove anos, e a minha querida mana,IRENI.

E ESSE FUJÃOZINHO, advinhem:
SOU EU: MARCIANO BORGES DE MELO.

PROCURO nem pensar, quantos anos de vida da minha saudosa mãe foram perdidos nesse triste episódio.
Ela que partiu com apenas 38 anos de vida…

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MARCIANO BORGES

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