Advogado, fazendeiro,
escritor e empresário

LAZINHO DA PIQUITITA E ZÉ DO DANDICO

NO ANO de l962, portanto há sessenta e um anos passados, as eleições municipais de Vazante pegavam fogo.
De um lado, Otávio Pereira Guimarães e Manoel Rabelo de Araújo, (Romeu Rabelo), formavam a chapa da UDN (União Democrática Nacional), considerada da situação; do outro lado, Joaquim Ferreira de Rezende (Quinzinho) e Sr Horizontino Xavier , formavam a chapa do PSD (Partido Social Democrático), tida como a chapa da oposição. Era uma disputa acirrada, pois ambas as candidaturas eram formadas por homens de bem e os apoios de lado a lado eram considerados de peso.

A CANDIDATURA dos udenistas era apoiada pelo atual Prefeito de então, João Queiroz de Melo e pela maioria dos Vereadores, que compunham o Legislativo Municipal. Por essa razão, desde aquela época, a máquina pública já era usada para ajudar nas eleições, que aconteciam a cada quatro anos. Há de ser considerado, ainda, que o Candidato a Vice dessa chapa era morador da região do distrito de Guarda Mor, que ainda pertencia ao município de Vazante e, por conseguinte os seus moradores ainda votavam nessas eleições. Seria essa a última eleição que os guardamorenses participariam em Vazante, pois no ano seguinte, l.963, seria a emancipação daquele município.

OTÁVIO PEREIRA GUIMARÃES, que encabeçava a chapa da UDN, era considerado um dos maiores fazendeiros da região. Homem correto, extremamente trabalhador, mas sem nenhum traquejo na política. Aliás, o que acontecia com a maioria dos candidatos, desde aqueles que postulavam uma vaga no legislativo, até aos Cargos do Executivo.
JOAQUIM FERREIRA DE REZENDE, da mesma forma. Embora um próspero comerciante no ramo de tecidos – era proprietário de uma loja de tecidos, roupas feitas, armarinhos, calçados, chapéus e outras mercadorias do ramo -, também não tinha a menor experiência em disputar uma eleição. E levava uma ligeira desvantagem em relação ao seu adversário, por não ser natural do município, pois viera de Coromandel, para explorar o comércio já citado.

AGORA, entro eu nessa história.
Desde aquela época a legislação eleitoral exigia que para votar a pessoa tinha de ser qualificado como eleitor. E, para isso, tinha de contar com l8 anos completos. Como sou do dia 30 de dezembro de l.944, em l.962 eu completaria a idade para tirar o título eleitoral somente no final do ano. Por isso, nem eleitor eu era, mas um ferrenho cabo eleitoral da UDN.

NAQUELES bons tempos não existiam os institutos de pesquisas. Mas os adeptos de cada lado, faziam as suas contas e cada qual garantia a vitória dos seus candidatos. Como todo cuidado é pouco, mesmo antevendo uma vantagem, a campanha dos udenistas não descuidava.

A PREFEITURA tinha adquirido um trator de esteiras, no governo do João de Melo, devido as estradas municipais existentes serem todas precárias e a necessidade de abrir outras era premente.
Assim sendo, esse equipamento era utilizado em alta rotação e conduzido para várias regiões do município. A ordem era atender especialmente aqueles cabos eleitorais considerados mais fieis e, especialmente, os que forem “donos” de mais títulos eleitorais.

AS ELEIÇÕES aconteceriam em outubro. Era um ano muito chuvoso, tendo iniciado as chuvas no mês de agosto, aumentando consideravelmente em setembro. Isso de certa forma dificultava o trabalho do trator. Mas ninguém esmorecia e o conduzia de lado a lado do município. Estradas, aterros, açudes, barragens e todo tipo de serviço era por ele executado, inclusive com a contratação de outro operador, para trabalhar dia e noite.

JÁ VESPERANDO as eleições, o trator foi requisitado para a região de Vazamór, reduto que encontrávamos um pouco de dificuldade. Isso devido a influência do conceituado cabo eleitoral da oposição, o Dr Antônio Ribeiro. Ele tinha sido o interventor do município, e Diretor escolar na cidade de Guarda Mor, mantendo um bom contato com a juventude e os seus pais. Além de um líder inconteste, era um grande fazendeiro, com muitos agregados e pessoas a ele ligadas pelos serviços das suas fazendas localizadas em Vazamór.

ODILON LUIZ

ODILON LUIZ, veio de Patrocínio a alguns anos, se tornou um vazantino de coração. Fervoroso cabo eleitoral da situação, era quem conduzia essa máquina por todo o município, em seu caminhão Ford.
E, eu, sempre o acompanhava, pois, apesar da diferença de idade, éramos amigos inseparáveis. Amizade que perdurou até ao falecimento precoce desse grande companheiro.

ENCARRETADA a máquina, apesar das chuvas incessantes, partimos em direção a Vazamor.
As estradas eram péssimas, aliás, conseguem deixa-las assim até hoje. Além do Odilon, pilotando o Fordão, íamos eu, o Lazinho da Pequetita, o Osvaldo, irmão do Baldininho e duas mulheres com crianças. Essas e o Osvaldo, aproveitavam a condução, pois eram residentes em Vazamor.

Naturalmente, eu e o Lazinho, cedemos nossos assentos na cabine do caminhão para as mulheres e as suas crianças. Na carroceria, junto ao trator de esteiras, íamos nós e o Osvaldo.
As chuvas não davam trégua. Mas a ideia fixa era cumprir a missão. PARA amenizar um pouco a molhança, eu me aboletei na cabine de comando do trator e os outros dois se escondiam, como podiam, em pedaços de lonas a eles fornecidas pelo Odilon.

 

A VIAGEM prosseguia com dificuldades, mas sem nenhum problema. Ao chegar no ponto onde fazia uma curva fechada à esquerda, bem ali onde hoje fica defronte a entrada para as fazendas dos Barrosos, hoje fazenda do Antônio Andrade, para ganhar os rumos da fazenda do Antônio da Odília, o inesperado aconteceu.
O local era cortado por enxurradas e, por isso, formaram-se diversas bacadas mais profundas e naquele dia cobertas pela lama e a água barrenta. E, numa dessas, o trator arrebentou as amarras e desabou de cima do caminhão, caindo de costas lá embaixo, levando consigo aquele que estava bem acomodado na sua cabine de comando, que era EU.

O IMPOSSÍVEL ACONTECEU.
Fiquei preso, debaixo daquele monte de ferro, com as esteiras pra cima, espremido entre aqueles cabos de comando, todos enterrados no chão, sem que nenhum deles tivesse me atingido, o que seria fatal.
O Odilon e os demais que conosco estavam, ficaram apavorados, sem que nada pudessem fazer. Até que ele se lembrou do macaco, normalmente utilizado para erguer o caminhão numa troca de pneus. Com ele suspendeu aquelas cinco ou mais toneladas de ferro, para que eu pudesse ser retirado daquele inferno. Além do desespero de estar preso e sem saída, ainda sujeitava o derramamento dos óleos da máquina e do combustível, jorrando em cima de mim. Vivi momentos horríveis…

SEGUNDO os entendidos, esse evento dificilmente se repetiria sem deixar nenhum ferimento ou morte…
A bem da verdade sofri apenas um pequeno corte do lado de dentro do pé esquerdo, considerado como se fosse nada, levando-se em conta o dimensão do evento.
A ÚNICA EXPLICAÇÃO, É A PRESENÇA DE DEUS!!!

 

Share this post

Project in mind?

Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit, sed do eiusmod tempor incididunt ut labore et dolore magna aliqua.

MARCIANO BORGES

Escritor, fazendeiro e empresário

Telefone

(34) 99171-5382

Email

financeiro@montanheza.com.br

Skip to content