“No dia do Caminhoneiro o Dr Marciano presta a eles essa homenagem”
SEU PORFÍRIO ROSA, tal qual Santos Dumont, guardadas as devidas proporções, jamais imaginaria que a difícil estrada que construiu seria utilizada para se transformar numa cilada de morte.
ASSIM foi com Santos Dumont, quando assistiu a sua invenção ser utilizada como arma, se transformando em uma mortífera máquina de extermínio de pessoas, na segunda guerra mundial.
SEU Porfírio que era natural de Presidente Olegário, oriundo de uma família numerosa, mudou-se para o incipiente arraial do Carrapato, hoje Lagamar, dando asas ao seu espírito aventureiro, buscando melhores dias para ele e a sua família. Ali se instalou no ramo de comércio, abrindo uma loja de artigos variados, onde se vendia de quase tudo, do cibazol até os funerais. Nesse tempo já possuía um caminhão para transportes naquelas estradas sofríveis.
ASSIM que se mudou para a Vila de Lagamar, ele viu logo a necessidade da interligação daquela comunidade com a cidade mãe, Presidente Olegário. De imediato deu início e construiu a estrada, propiciando o tráfego de automóveis entre as duas comunas.
NAS suas incursões pros lados do arraial da Lapa do Pamplona, imagina-se nas Festas da Lapa, ele com seu olho de lince, vislumbrou futuro naquele outro incipiente lugarejo, antevendo o fortalecimento do seu comércio, se houvesse uma melhor trafegabilidade entre os dois arraiais. E, quem sabe, um meio de transporte coletivo ligando o arraial da Lapa com Lagamar, Presidente Olegário e até Patos de Minas?
COMO era próprio do seu espírito aventureiro, não se deparou com a menor dificuldade em implantar uma estrada naqueles topirotes de serra que separava as duas comunidades.
CONVOCOU uma quantidade de homens, como ele, divorciados do desânimo e pôs mãos á obra. Em alguns meses ele rompeu todos os obstáculos e na base do enxadão, picareta e labanca, ele conseguiu construir a tão sonhada estrada rodageira, ligando os arraiais da Lapa e o Carrapato, sonhando um dia ver uma jardineira fazendo aquele percurso e transportando as pessoas. Mesmo porque, a cidade de Patos de Minas já começava a mostrar prosperidade e seria, com certeza, atrativo comercial da região.
Não titubeou, galgou os cumes de serra do Carneiro e do Indaiazinho, até ganhar a baixada da fazenda Mata Preta.
A DESCIDA da serra do Indaiazinho, desde a construção inicial já tinha aquele desnível. Mas quando foi projetada e construída por Seu Porfírio fazia algumas pequenas curvas, o que aumentava ligeiramente o seu percurso. Mas engenhosamente diminuía a declividade e era menos perigosa.
ME lembro, como muitos por aí também se lembram, que a Jardineira do Zé Furreca, do Gote e outros – não me lembro da jardineira do Seu Porfírio, o pioneiro no transporte de pessoas na nossa região -, que por ali trafegavam, parava lá no alto, desligava os motores e aguçava os ouvidos para ouvir se vinha algum outro veículo em sentido contrário. Só depois dessa precaução iniciava a descida, pois não cabiam dois automóveis ao mesmo tempo na subida da serra. Naturalmente com a marcha forte engatada, pois era sabido que os freios não suportariam o veículo naquela descida longa e íngreme.
O PROGRESSO foi chegando ligeiro, e com ele a melhoria das estradas, o aumento do número de automóveis e caminhões com os consequentes transportes de passageiros e cargas.
E a serra do Indaiazinho ali na espreita, sempre perigosa e pronta para destruir veículos, engolir vidas e destruir sonhos e famílias.
É o preço, dizem os mais realistas…
Seu Porfírio Rosa tinha como irmãos, além de outros, D. Benedita Cândida Borges, esposa do saudoso Aristeu Borges; Seu Antônio Rodrigues Rosa, Antônio Clemente e D. Divina Rodrigues Rosa. Estes residiram em Vazante por longos anos e aqui falecerem. D. Divina era a mãe da Dona Zoraides, esposa do Abdias Xavier; José Rosa, Sinval Rosa e D. valda, viúva do Fernando Ferreira.
FOI ele quem projetou e construiu ás suas expensas a estrada do indaiazinho, sendo o primeiro a chegar com um caminhão e uma jardineira no então arraial da Lapa do Pamplona, inaugurando, destarte, o transporte de cargas e coletivo na nossa incipiente região.
É bom que se registre que isso se deu a partir dos longínquos anos de 1.944. Era um visionário…
CONVIVEMOS por longos e penosos anos, transitando por estradas cascalhadas. No período seco, poeira; nas águas, barro e atoleiros. Isso durou até o ano de 1.992, quando o Governo do Estado, atendendo a demandas de décadas, após reuniões e mais reuniões, conseguiu os polpudos financiamentos junto ao BNDES e pavimentou uma quantidade enorme de estradas abrangendo parte do Alto Paranaíba e do Noroeste Mineiro, incluindo os trechos que nos interligou de asfalto a todas as cidades equidistantes de Vazante: Coromandel, Paracatu e Patos de Minas.
Nessas circunstâncias a expectativa e a de que seria solucionada a descida da Serra do Indaiazinho. Mas para a decepção geral nada disto aconteceu. A armadilha permaneceu e, agora, com mais perigo. A filosofia dos caminhoneiros, descrita nas traseiras dos seus caminhões, com os dizeres “ESTRADA É IGUAL MULHER, QUANTO MAIS BOA MAIS PERIGOSA”, caiu como uma luva naquele trecho da MGC 354. Após a sua pavimentação, aquela descida já assassinou e mutilou muitas e muitas pessoas, dentre elas os profissionais do volante, suas vítimas preferidas.
“Todos ficam indignados quando um acidente com vítima fatal acontece naquela que ficou famosa,” CURVA DO INDAIAZINHO”, para muitos já conhecida como “A CURVA DA MORTE”.
No entanto, isso vai ficando muito corriqueiro. Tal e qual uma dor de dente só é lembrada nos primeiros dias do ocorrido, depois, cai no esquecimento, até que venha outra vítima fatal…
Diante do último acontecimento, que vitimou um irmão da estrada, de apenas 52 anos de idade, natural de Patos de Minas, que, presumidamente, perdera os seus freios no início da descida e bateu forte no final da curva, danificando totalmente o caminhão com o qual trabalhava e perdendo o bem mais precioso que possuía, a sua vida. Aguardei as providências pelas autoridades e percebi que ficaria como antes. A dor de dente iria passar e nada seria feito.
Resolvi me intervir. Procurei o Prefeito de Lagamar, o meu amigo, José Alves Filho, o Zico Sudário e mostrei a ele a minha indignação e a minha intenção de buscar uma solução definitiva para esse terrível mal. Encontrando nele a mesma vontade, me propus irmos até a Patos de Minas, e falar com o Engenheiro Chefe do Departamento de Estradas de Rodagem – DER. Ele concordou com a ideia.
Liguei para o meu amigo e colega no ramo das comunicações, Elmiro Nascimento, solicitei a ele que agendasse com o Engenheiro do DER aquela reunião o que, sem dificuldade, conseguiu.