Advogado, fazendeiro,
escritor e empresário

AS FESTAS DE Santos Reis é de longe a maior manifestação folclórica do interior do Brasil. Podendo afirmar ser nos Estados de Minas Gerais e Goiás onde essa manifestação folclorica/religiosa sobrepõe aos demais.
NA NOSSA regiao no Distrito de São Braz de Minas, do município de Lagamar, concentram -se o maior número de Grupos de Folia e, como é óbvio, a maior quantidade de foliões.
Eu mesmo, apesar de não morar na região, mas sendo proprietário rural no âmbito daquele adstrito, sou um dos foliões pertencente à Folia dos Correias.
É UMA devoção Cristã, posicionada acima de qualquer outra. As pessoas devotas dos Três Reis Santos, na época das Festas, geralmente no dia 6 de janeiro, viajam centenas de quilômetros para assistirem aos festejos e se emocionaram com a beleza do hino de Reis, cantado pelo grupo de Foliões da sua preferência.
EM VAZANTE, também, vem fortalecendo esses festejos, quer seja no Encontro de Folias patrocinado pela Sociedade de São Vicente de Paulo, onde dezenas de Grupos de Folias de toda a região se apresentam, como também na Comunidade de Barreiros, onde o mesmo acontece.
PARA quem gosta, como eu, esses festejos são preferenciais a qualquer outro. Enche os olhos e muito se emociona viver a simplicidade do nosso povo do interior ao participar de uma festa, sentindo-se o principal protagonista dela e ao mesmo tempo cumprindo o seu papel de religioso.
JAMAIS em outra festividade qualquer, as pessoas encontram um banquete mais democrático. Após as apresentações religiosas, assim como a reza do terço, a apresentação final da Folia, enaltecendo a troca das coroas, quando os atuais festeiros passam para os seus sucessores a responsabilidade para a festa do ano vindouro. Aí, sim. Inicia-se a comilança. Tutu de feijao com torresmo, mandioca, carnes de todas as espécies possíveis. E uma fartura sem comparação. Os festeiros não sabendo da quantidade de pessoas que participarão dobram a quantidade de comida para nao sofrer vexame. Embora há uma crença que Santos Reis não deixará faltar, independentemente do número de pessoas. Depois vem o pagode até amanhecer o dia.
FATO extremamente desagradável aconteceu numa Festa de Santos Reis na fazenda do Dr António Ribeiro (que Deus o tenha), lá na regiao de Vazamor. Dr Antonio, fazendeiro abastado, farturento e também devoto dos três Reis, aceitou a Coroa da festa regional e se propôs patrocinar uma festa de arromba, na sua fazenda localizada na beira do córrego das cuie. Festa pra deixar saudades!…
Festa de Santo Reis: tempo de romper o isolamento e celebrar a amizade, o  encontro e a fé - Rádio América
NESSA festa houve uma das maiores presenças de pessoas. A folia passou de casa em casa, visitando toda a regiao e o festeiro cuidou, pessoalmente, de reforçar os convites. Ele que tinha residencia em Paracatu, conseguiu trazer um bom número de amigos daquela cidade. Enfim, a festa ficou á altura do anfitrião.
EU NAO participei dessa festa, mas o finado João Carneiro, que lá esteve, me relatou fielmente o ocorrido.
A Parte religiosa transcorreu normalmente. Rezaram-se o terço. A Folia fez bonito e as Coroas foram trocadas. Finalizando essa parte, com o sol já descanbando, começaram a servir a fartura de comida. E o povareu enfilerou-se no rumo dos imensos caldeirões de comidas.
E a parte melhor da festa tomou corpo.
SEGUNDO o João Carneiro pagava a pena ver o povão comendo com “boca boa”, principalmente as carnes que foram amaciadas pelas artimanhas da velha cozinheira trazida de fora.
Em menos de uma hora todo mundo já tinha comido e buscava a mesa de doces para a sobremesa, quando já se via os primeiros sintomas do que estava por vir.
ERA COMUM ver alguém apalpaldo a barriga, forçando um arroto e repetindo de forma desordenada um copo d’agua. Daí, iniciava-se a busca de um lugar protegido da vista de outros e já descendo as calças. Dentro de poucos minutos o mato ficou pequeno para tantos que dele dependia para fazer as suas necessidades. A caganeira, generalizou-se.
QUANDO a coisa saiu do controle e já não tinha tempo e nem lugar escondido, as pessoas dicocavam umas juntas a outras, seja homem ou mulher -todos perderam a vergonha, diante da caganeira geral.
As mulheres levavam vantagem, pois naquele tempo elas não usavam outra roupa a não ser um longo vestido, por isso só se abaixavam e fazia uma roda com o vestido se protegendo e, no dizer do João Carneiro, deixava a bosta sair…
CERCA de cem a duzentos metros em redor da casa não se conseguia andar sem sujar as botinas ou os chinelos. O terreiro do homem ficou todo cágado. A catinga, a princípio incomodava, mas com o passar do tempo ninguém nem sentia mais.
DOS MALES o menor. Apesar do vexame e da fraqueza generalizada, ninguém morreu. Todos conseguiram voltar para as suas casas, alguns ainda pesarosos por não participar do pagode, que iniciaria após a comilança.
INDAGUEI do João Carneiro se apuraram a causa daquilo, ele disse que foi um erro no tempero. Ao invés de colocar o amaciante nas carnes, meteram foi tártaro, que não envenenou o povo mas deu uma limpeza intestinal sem precedentes…

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MARCIANO BORGES

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